sábado, 22 de novembro de 2008

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Caligrafias Urbanas

Neste momento estou criando uma série de imagens chamadas "Caligrafias Urbanas" a partir de fotos tiradas do estúdio e da rua no processo de criação de "Brecha". A idéia de caligrafia aqui está ligada à ação e a transformação do traço que acontece neste "corpocidade" - seja por intervenção do tempo nas paredes ou por photoshop no computador. A princípio me interessa muito a permeabilidade do meu corpo e da cidade. As pequenas descobertas das ações de tatear, atritar o meu corpo no corpo da cidade.


Leonardo França

Caligrafias Urbanas

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Tá pra jogo?


Estamos prestes a encerrar a oficina do Corpo Dinâmico de Peter Dietz. Podemos fazer o seguinte balanço: as instruções básicas desta oficina eram Activar, Disponibilizar e Partilhar o corpo. As estratégias eram variadas: anotar em um caderno coletivo como está o seu corpo assim que chegou ao estúdio e depois ao final das práticas; investigar criticamente e criativamente quais os caminhos que seu corpo precisa percorrer para disponibilizar-se para performar; práticas de percorrer o estúdio em linhas com a intenção de rasgar o espaço sempre em frente, variar as tensões, os planos, disparar até chocar-se com a parede ou grudar nela; performar coletivamente por horas (em média 3 a 4 horas) afinando a escuta, reciclando a energia que dispersa e quer desistir da relação com o outro e o ambiente; e aprender a lidar com a frustação, o esgotamento, os buracos e saber ouvir o que pode surgir destes momentos de estagnação e branco. 
Peter costumava falar que sua pesquisa investigava a energia sexual como força e potência para performar. A esta pesquisa ele deu um nome engraçado chamado "Godog", aliás o bom humor está sempre nas suas palavras e movimentos. Dividindo nossas idéias lembramos da nossa expressão baiana "tá pra jogo", que tem um bom humor também para se referir  a abertura para se relacionar, se enroscar, esfregar, atritar no outro.
  

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Como vai o corpo?

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As duas últimas semanas (fora esta) foram menos produtivas  para textos. Na primeira dessas duas últimas estive gripada e na quarta feira da semana passadative uma crise de enxaqueca tão brutal que tive que ir às pressas para a emergência do hospital. Passei o dia todo lá. Tomei remédio e soro na veia, com aquela detestável agulha-caninho enfiada na minha mão direita.

         É incrível o corpo doente. É mínimo e máximo ao mesmo tempo. Economiza ao máximo a energia, pois a está gastando inteira. Complexa instabilidade.

         Agora teve uma coisa que me cutuca, até hoje, todos os dias: a materialidade da luz. Sem metáfora alguma (muito infelizmente para aquela quarta feira), a luz que entrava pelos meus olhos me espremia atrás dos olhos, ou o cérebro inteiro, e socava meu estômago. Náuseas, vômitos. Isso me impressionou muito e até hoje tenho uma sensação do toque da luz bastante diferente. Antes, a luz tocava meus olhos e eu não percebia, depois, a luz se esfregava nele e eu percebi que o tocava. Às vezes sinto muita necessidade de fechar os olhos para descançar, ou simplesmente para não enjoar.

         As experiências de dor são incrivelmente enriquecedoras. Proporcionam uma propriocepção brutal. Mesmo. É lógico que isso fica lindo e interessante depois que já passou. Curioso. Nunca tenho coragem de entrar numa situação dolorosa. Mas para enxaqueca não é preciso coragem, ela vem e acontece mesmo assim.

         Outra coisa curiosa foi que estávamos (e estamos) às voltas com esse tema da documentação. E com a minha aventura da enxaqueca eu tive um documento um tanto inesperado de mim mesma. Foi um TAC, como as enfermeiras do ambulatório chamaram. Mas era um raio x da cabeça. É incrível! É uma foto de mim, do meu cérebro, com os meus ossos e aquela massa cinzenta. Sou eu. É uma foto de mim! Mas isso é algo que eu tenho que fazer o esforço de perceber e me convencer. Se acaso fosse o cérebro de outra pessoa e viesse com o meu nome por engano na chapa, eu jamais desconfiaria que não seria eu. Se me desconcentro do esforço de ver “aquilo” como “eu”, veria como “o cérebro”. Isso me faz lebrar daquela questão sobre corpo e mente. Reconhecer-se enquanto corpo. Os guineenses, quando se cumprimentam, dizem “como vai o corpo?”. Não é fantástico? Isso eu aprendi quando passei 1h30 no Largo de São Domingos.

         É que eu realmente fiquei chocada com a minha óbvia incapacidade de reconhecer-me naquela foto de cérebro. Um documento tão preciso sobre mim, que me revela algo quase desconhecido. E que está todos os dias comigo. E que me faz ser isso que eu chamo de “eu”. Assim como o meu rosto, os meus dedos, a barriga, as linfas do sangue, as mitocôndrias… e todas essas partes que aprendemos a separar por nomes.

         Então? Como vai o corpo? Como vai a vida?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Aprendiz de um corpo doente

 

Pelo olhar saudável observo o corpo que se dobra, segura a cabeça que parece pesar mais que de costume, pequenos golpes nas víceras, o revirar de dentro comprime o corpo, não faz sentido sentar, cruzar as pernas, ler, não faz sentido palestrar - mover-se demais são excessos dos sãos – dizer sim ou não é um esforço imenso: a dor das escolhas, acatar a dor, resignar, resistir, faz sentido calar, silenciar ao máximo o mundo, o mínimo para continuar, para conseguir estar ali, a melhor posição é aquela que reduz a dor ao mínimo possível, por isso é preciso que ninguém toque, fale ou carregue pois é preciso escutar o balançar da dor até colocá-la em travesseiros, deitar a dor em algum canto do corpo, recolher-se, fechar os olhos, entrar nos domínios do sono, respirar, dissolver-se por inteiro, dentro e fora, para já não ter mais solidez para a dor revirar, para já não ser mais nada a adoecer.  

Leonardo França

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Série Jardim

Fotos tiradas por Leonardo França. Experimentos sobre dissolução ou in-corporações das polaridades "natural" e o "cultural", "tecnologia" e "natureza". Ou simplesmente admirando o tempo. 

Série Jardim

Série Jardim

Série Jardim

Série Jardim

domingo, 26 de outubro de 2008

Primeiro Texto Paula

         Lisboa, 17 de outubro de 2008.

 

Não é mesmo muito fácil começar a escrever. Mas olhe só! Só em traçar essas palavras já comecei alguma coisa!

         Hoje é sexta feira, dia 17 de outubro e foi o último dia da oficina de corpo com a Sofia Neuparth, diretora do c.e.m. Foram 5 dias de aulas, das 10h às 15h e tenho a impressão de que foi pouquíssimo tempo e que, ao mesmo tempo, faz muito tempo que estou aqui.

         O trabalho com Sofia foi surpreendentemente SIMPLES. Basicamente caminhar, perceber, conversar. Nos começos, pelas manhãs, dizia: “primeiro dança, depois aquece”. Logo na segunda feira, quando viemos do aeroporto direto para a aula, ao entrarmos na sala de trabalho lá estava uma toalha estendida sobre o linólio, uma bacia com legumes, facas, táboa, copos, cumbuquinhas e um fogareiro. Antes de tudo, vamos preparar a sopa! Não temos tempo para sairmos para almoçar, então deixamos os legumes cozinhando para o intervalo das 13h. E assim jogávamos nas sopas desses 5 dias (com algumas variações de cardápio) nossos nomes, de onde vínhamos, nossos corpos, idéias, corporidéias, palavras, descobertas, bobagens…

         Logo de cara, na segunda feira, depois de conversarmos um bocado, o exercício era andar na sala (só dentro da sala) por uma hora! Sopa, sopa, sopa, sopa. Depois de uma hora, dançar essa qualidade por 15 minutos.

         Almoçar a sopa. O sono da viagem de 8h de avião + o fuso horário + carregar malas e mochilas + a loucura da paulicéia, onde tínhamos passado os últimos dias, era também a qualidade daquela dança. Foi, para mim, muito curioso dançar com sono! Dançar este sono. Sem fugir dele.

         Sopa, sopa, sopa, blá, blá, blá. Mais 50 minutos em um grupo de quatro pessoas a mudar de um lugar para outro e escrever. Escrever qualquer coisa. Sem partilhar as palavras, mas o ato de escrever. Dançar esta ação juntos. Zoom in, zoom out.

         Pensamento, discussão, andar, correr, pular, rir, olhar, analisar, girar, rolar, tudo imbricado nas imensas curiosidades e ganas que tínhamos (temos) de comunicar.

         Assim foi se seguindo a oficina. E não surgiu nenhum exercício brilhantemente novo. E era tudo absolutamente interessante e infinitamente inesgotável. Deitar no chão, perceber o fêmur, as omoplatas, a fisiologia DO MEU CORPO – PAULA, A SER DESBRAVADA POR MIM! Bah! Besta! Lindo! Uau!

         Consegues explicar isto enquanto danças? Podes ir ao centro para nos mostrar melhor? É frequente esse tipo de provocação vinda de Sofia. Sempre sedutora, vibrante, meio doida, engraçada, aborrecida…

         E sempre andar. Sempre discutir QUALIDADE. Andar no espaço, andar com o espaço e ser andado pelo espaço. Distrair-se, permitir-se passear. Leminski ensinou-nos: “O mundo não quer que você se distraia.  Distraídos estamos salvos.”

         Opa! Uma idéia/movimento morreu! Então tá, vamos em frente. Ser atravessado pelas coisas. Não precisamos agarrar tudo o tempo todo, entender, prestar atenção, produzir. Vá lá, ande. Depois de uma hora seu corpo estará pronto para alguma coisa. Se calhar, para descançar, ou dançar ou escrever ou olhar… mas certamente estará pronto.

         Estando aqui penso muito na UFBA. Pensei que seria mesmo um exercício de valer à pena termos uma aula (não planejada?) de todos os módulos juntos (com um professor de cada módulo?) uma vez na semana. E essa aula seria (para roubar pensamentos de Fabiana) um “exercício de articulação”. Penso que poderíamos partilhar mais nossas dúvidas e inquietações como artistas e sermos um pouco menos alunos. Uma vez na semana?

         Bem, não sei. No momento isso faz sentido para mim. Pode deixar de fazer daqui há não sei quanto tempo ou então fazer mais sentidos ainda…

         Hoje foi o último dia desta oficina e nós fomos todos para a grande Praça do Comércio e ficamos andando no quadrado da praça por cerca de uma hora e meia. Sem pudor. Menos pudor para ir para a rua. Não para apresentar nada ou mostrar coisa alguma. Podemos nos exercitar assim também. Simplesmente. Simples. Tão simples que até espanta! 

 

Paula Pó